PREFÁCIO DE DOM BERTRAND AO LIVRO “SÃO LUÍS, O REI DA COROA DE ESPINHOS”

Publicado em 01/11/2023 às 12:00:31

 

O Secretariado da Casa Imperial tem a alegria de compartilhar com os monarquistas e amigos da Família Imperial Brasileira o prefácio escrito pelo Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, para a segunda edição do livro “São Luís, o Rei da Coroa de Espinhos”, do Prof. Dr. Lucas Régis Lancaster Merino Silva, lançada em 2023, pela Editora CDB:

 

Nosso Senhor Jesus Cristo confiou aos seus apóstolos a missão de evangelizar todos os povos. Com dedicação inabalável, os discípulos cumpriram esse mandato, difundindo a Fé entre as nações. Foi assim que a Igreja ergueu, com esmero e fervor, a Cristandade, a civilização cristã, cuja magnificência foi descrita com eloquência pelo Papa Leão XIII na Encíclica Immortale Dei, de 1885.

 

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados. Então o sacerdócio e o império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.”

 

Os frutos mencionados por Leão XIII são abundantes e numerosos: a fundação dos leprosários e hospitais; a libertação dos escravos; as mulheres, outrora desprezadas pelo paganismo, receberam lugar digno, assim como a instituição familiar monogâmica e indissolúvel; o sagrado direito das famílias na educação dos filhos; a disseminação da cultura e a expansão do conhecimento por meio de escolas e instituições acadêmicas, como universidades renomadas.

 

A Cristandade Medieval narrada pelo Papa assentava-se na fidelidade inabalável dos povos ao Sangue infinitamente precioso derramado por Nosso Senhor Jesus Cristo, havendo nela uma harmoniosa relação entre a esfera espiritual e a temporal, uma colaboração saudável de propósitos, tal como sustenta a doutrina católica: enquanto à Igreja incumbia a nobre missão de salvar almas, ao Estado competia a organização da vida em sociedade e o fomento das virtudes, sempre em estreita colaboração com a Igreja, submetendo-se a ela em matéria de fé e moral.

 

Nesse equilíbrio, despontava a figura do monarca: o Bem-Aventurado Papa Pio IX, em sua notável Encíclica Quanta Cura, de 1864, ensina que aos reis não era conferido o poder apenas para o governo terreno, mas também para salvaguardar e proteger a Igreja.

 

Ademais, os reis governavam como pais dedicados. É próprio de um verdadeiro pai proteger os filhos, estimular neles as virtudes e corrigi-los quando necessário. Esses princípios sintetizam não apenas a essência da missão paterna no âmbito familiar, mas também a de um monarca em sua nação.

 

Todos esses nobres propósitos brilharam com esplendor radiante no venerável reinado de São Luís IX, cuja história é abordada nesta obra. A memória da vida e do reinado desse grandioso monarca da Cristandade deve ressurgir resplandecente em nossos dias, pois sua figura magnânima ecoou e continua ecoando através dos séculos.

 

O soberano era conhecido pela sua inabalável justiça, que permeava cada ação, pela humildade que o revestia e pelo incansável empenho de promover a paz e a unidade em seu reino. Sob seu poder a França entrou em um período de estabilidade política e em um florescimento econômico, bem como impulsionou reformas judiciais de valor inestimável, consagrando uma ordem equânime, disseminando justiça por todo o reino.

 

Para além de sua vida governamental, desempenhou um importante papel na promoção e no cultivo da cultura e do conhecimento. Foi sob sua égide que se ergueu a Universidade de Paris, com o intuito de disseminar a luz do saber pelo reino. Era conhecido pela sua generosidade e compaixão pelos menos afortunados, empreendendo várias ações de caridade, ajudando os pobres, os doentes e os órfãos. Ademais, ele se destacou como um pacificador, mediando disputas e negociando a paz entre forças rivais.

 

É preciso recordar São Luís sentado à sombra do carvalho de Vincennes, distribuindo justiça com a sabedoria que lhe era inerente. Sua dedicação e fidelidade à Santa Igreja eram tais, que não tomava nenhuma decisão sem considerar sua condição de batizado. Longe de ser um tirano legislador que impôs seu domínio sobre todas as esferas da vida, ele reverenciava a ordem orgânica da sociedade.

 

Devemos lembrar de São Luís como rei cruzado, que por duas vezes, ouvindo o apelo do Papa, abandonou seu reino para lutar incansavelmente em defesa da Igreja e da Cristandade no Oriente, levantando-se com destemor diante das ameaças que assombravam a Fé.

 

Entre todas as suas qualidades, contudo, é premente registrar a mais importante: sua grande disponibilidade de rezar e fazer penitência. Era ele um soberano que se prostava diante do Rei dos Céus em generosa oblação.

 

Infelizmente, após um reinado cheio de virtudes, os séculos que se seguiram não imitaram São Luís, e a ordem teocêntrica da Idade Média foi demolida, sobretudo após o advento do protestantismo e do humanismo. Cedeu-se então lugar a uma sociedade antropocêntrica, em que o homem ocupava o centro de todas as coisas e adorava a si mesmo, em detrimento do culto a Deus.

 

As consequências dessa realidade amargamos em nossos tempos: o afastamento de Deus em nossa sociedade fez com que o mundo moderno separasse a Igreja e o Estado e transformasse este último em “deus”, com o poder de legislar sobre todas as coisas.

 

Estudando o reinado de São Luís, percebemos o quanto ele representou em sua vida e em seu governo exatamente o oposto disso.

 

São Luís, o rei santo do qual me ufano de descender, é modelo de chefe de Estado. Que seu exemplo nos sustente em nossas lutas pela salvação das almas e pela restauração da Cristandade.

 

Dom Bertrand de Orleans e Bragança

Chefe da Casa Imperial do Brasil

 

“São Luís, o Rei da Coroa de Espinhos” pode ser comprado no site do Centro Dom Bosco: https://loja.centrodombosco.org/sao-luis-o-rei-da-coroa-de-espinhos-lucas-lancaster