Princesa Isabel
A Princesa Isabel Christina Leopoldina Augusta Michaela Gabriela Raphaela Gonzaga de Bourbon Bragança e Orléans nasceu no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846, tendo sido a segunda filha e primeira varoa do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina. Em 15 de novembro do mesmo ano foi batizada na Capela Imperial do Rio de Janeiro, tendo como padrinhos seu tio paterno, o Rei D. Fernando II de Portugal, e sua avó materna, a Infanta Maria Isabel da Espanha, Rainha Viúva das Duas Sicílias.
Com o falecimento de seu irmão mais velho, D. Afonso, a Princesa Isabel passou a ser a herdeira presuntiva ao Trono, intitulada Princesa Imperial do Brasil, e definitivamente herdeira com a morte de seu segundo irmão, D. Pedro. A proclamação oficial se deu em 10 de agosto de 1850 pela Assembleia Geral do Império, reunida no Paço do Senado. Em 29 de julho de 1860, no seu 14º aniversário, a Princesa prestou juramento à Constituição (de 1824) perante os membros da Assembleia Geral.
A Princesa Isabel e sua irmã, Princesa Leopoldina, receberam esmerada educação, tendo como preceptora D. Luiza Margarida de Barros Portugal, Marquesa de Montferrat e Condessa de Barral, estudando diariamente das 7h às 21h30, e tendo os cadernos corrigidos pelo próprio Imperador.
Em 15 de outubro de 1864, na Capela Imperial do Rio de Janeiro, a Princesa foi desposada pelo Príncipe Gaston de Orléans, Conde d’Eu, neto do Rei Luís Filipe I, dos franceses. Retornando ao Brasil após a lua-de-mel na Europa, o noivo assumiu o comando das tropas imperiais na Guerra do Paraguai. Em 1871, D. Isabel passou a dirigir a Regência quando seus pais partiram em viagem pela Europa e Norte da África.
Durante sua Primeira Regência a Princesa Isabel assinou a Lei do Ventre Livre e, ao completar 25 anos, seguindo a Constituição de 1824, assumiu seu assento no Senado do Império, tornando-se a primeira mulher Senadora na História do Brasil. Com o retorno do Imperador e da Imperatriz, em 1872, D. Isabel partiu para a Europa com o objetivo de realizar exames e tratamentos para enfim conceber um herdeiro para o Império. Após terapias e sua inabalável confiança em Nossa Senhora Aparecida, D. Isabel concebeu quatro filhos: D. Luiza Victoria (natimorta, 1874); D. Pedro de Alcântara, Príncipe do Grão-Pará (1875-1940); D. Luís Maria (1878-1920), futuro Príncipe Imperial com a renúncia de seu irmão mais velho, em 1908; e D. Antônio Gastão (1881-1918).
Logo após a Segunda Regência, em 1878, a Princesa e o marido receberam permissão de D. Pedro II para residir por dois anos na Europa, a fim de proporcionar tratamento de saúde adequado ao primogênito D. Pedro de Alcântara. O retorno dos Príncipes entretanto teve que ser adiado por um ano, devido ao nascimento de D. Antônio.
A Família Imperial brasileira sempre foi abolicionista, mas D. Isabel desde a infância com mais realce, tomando a frente do Movimento Abolicionista, apoiando jovens políticos e jornalistas que compunham essa agremiação (apesar de muitos serem republicanos), financiando a alforria de escravos com seu próprio dinheiro ou doações que a Princesa e o Conde d’Eu coletavam pelas ruas, escondendo escravos fugitivos em seu Palácio, financiando o Quilombo do Leblon, que cultivava camélias, flor-símbolo da Abolição, rendendo-lhe o título de “A Princesa das Camélias”. Seus filhos, seguindo seu exemplo, editaram um jornalzinho abolicionista que era distribuído na Corte.
Com a terceira ausência do Imperador D. Pedro II no país, desta vez para tratamento de sua debilitada saúde, teve início em 30 de junho de 1887 a Terceira Regência da Princesa. Durante o período D. Isabel apressou a votação da Lei Áurea, assinando-a em 13 de maio de 1888. Concluída a Abolição, a Princesa tinha planos de proporcionar aos ex-escravos um bom futuro, iniciativa frustrada pelo movimento republicano e por fazendeiros insatisfeitos.
Após o golpe militar de 15 de novembro de 1889, a Princesa Isabel, conhecida agora como “A Redentora” devido à sua luta pela libertação dos escravos, partiu para o exílio, na Europa, acompanhada pela Família Imperial e por monarquistas mais próximos.
Com o falecimento de D. Pedro II, em 1891, a Princesa Isabel assumiu a Chefia da Casa Imperial do Brasil. Em 1895, após muitos problemas financeiros, a Família Imperial se instalou no recém-adquirido Palacete de Boulogne-sur-Seine, em Paris. O Conde d’Eu e D. Isabel passaram a se dedicar à educação dos filhos e ao encontro com proeminentes brasileiros monarquistas, como o aviador Alberto Santos-Dumont. Em 1902 adquiriram o Castelo d’Eu, para onde se mudaram.
Em 1908, a Chefe da Casa Imperial brasileira aceitou a renúncia de seu filho mais velho, o Príncipe D. Pedro de Alcântara, por si e por todos os seus descendentes, para se casar com a Condessa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz. No mesmo ano casou seu segundo herdeiro varão, o Príncipe D. Luís Maria, com a Princesa Maria Pia das Duas Sicílias. Com o nascimento, em 1909, do neto D. Pedro Henrique, Príncipe do Grão-Pará, a Princesa Isabel passou a se dedicar à educação do futuro Chefe da Casa Imperial do Brasil.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial no início de 1914, da qual participaram os Príncipes D. Luís Maria e D. Antônio combatendo bravamente pelos Exércitos britânico e canadense, a Princesa Isabel transformou o Castelo d’Eu em hospital franco-belga, com o principal objetivo de atender aos feridos da Batalha de Abeville, incluindo prisioneiros alemães. Com a ajuda da conhecida cientista Marie Curie, foi instalado num dos salões do castelo um aparelho de radiografia. Durante os bombardeios o Casal Imperial brasileiro abrigou dentro de seus portões parte da população. O Conde d’Eu, impossibilitado pela idade de servir no campo de batalha, tornou-se voluntário, auxiliando, em casa, o Exército francês e os Aliados, oferecendo socorro médico e patrulha nas ruas.
Tal Guerra impôs entretanto duros infortúnios à Princesa Isabel, pois perdeu dois de seus filhos: D. Antônio, em 1918, durante treinamento de avião, logo após o fim da guerra, e D. Luís Maria, em 1920, com saúde debilitada por ter contraído reumatismo ósseo nas geladas e insalubres trincheiras.
Com a revogação da “Lei do Banimento” em 3 de setembro de 1920, a Família Imperial brasileira poderia retornar ao Brasil, sendo organizada então a vinda dos restos mortais do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina. Acompanharam o translado o Conde d’Eu e o filho mais velho, Príncipe D. Pedro de Alcântara. A Princesa Isabel, com a saúde muito frágil, não conseguiu viajar, falecendo no Castelo d’Eu em 14 de novembro de 1921, aos 75 anos, sem nunca mais ver sua Pátria.
Em 1953, os corpos da Princesa Isabel e do Conde d’Eu foram também transladados ao Brasil, repousando na Catedral de Petrópolis, junto às esquifes do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina.